Por: Fernando Brito
O
governo Michel Temer e o gestor que ele colocou na Petrobras, o ex-ministro do
apagão Pedro Parente tiraram, hoje, da Petrobras, mais do que todos os desvios
de Paulo Roberto Costa, Pedro Barusco, Nestor Cerveró e todos os outros ratos
que roeram o dinheiro da Petrobras nos casos investigados pela Operação Lava
Jato.
A
venda do campo de Carcará para a norueguesa Statoil é um desastre que pode se
explicar com uma conta muito básica.
Mesmo
a 50 dólares o barril, campos como Carcará – onde os estudos já apontaram para
uma produção superior a 35 mil barris diários por poço – remetem a
um custo mais baixo do que a média já fantástica de US$ 8 dólares por
barris atingida no pré-sal. Depois de pagos royalties (Carcará é anterior à lei
de partilha), impostos, custos de transporte e tudo o mais. é conta muito
modesta estimar um lucro de US$ 5 por barril. Pode até ser o dobro.
Carcará teve
colunas de rocha-reservatório até quatro vezes mais extensas que Sapinhoá
(ex-Guará) e sua metade oeste, onde estão os poços, tem mais ou menos a mesma
área. Sapinhoá tem uma reserva medida de 2,1 bilhões de barris de óleo
recuperável, isto é, que pode ser extraído.
Pode,
portanto, ser maior, muito maior.
Ma
já se Guará tiver o mesmo, apenas o mesmo, faça a conta: lucro de mais de
10 bilhões de dólares, a cinco dólares por barril.
Ou
R$ 33 bilhões, ao dólar de hoje. Como a Petrobras detinha 66%, dois terços, da
área, R$ 22 bilhões.
Pode
ser mais, muito mais, esta é uma conta conservadora.
Este
campo foi vendido por R$ 8,5 bilhões, metade a vista e metade condicionada à
absorção de áreas vizinhas, dentro do processo que, na linguagem do setor,
chama-se “unitização”, quando o concessionário leva as áreas nas quais, mesmo
fora do bloco exploratório original, a reserva petrolífera se prolonga, na
mesma formação geológica.
Como
o valor estimado das roubalheiras na Petrobras ficou na casa de R$ 6,2 bi, nos
cálculos folgados que se fez para a aprovação de seu balanço, tem-se uma perda
de mais de duas Lava Jato.
Sem
incluir na conta as centenas de milhões de dólares gastos na perfuração
dos três poços pioneiros – muito mais caros que os de produção normal – e nos
estudos e sensoriamentos geológicos que fez para determinar o “mapa” da
reserva.
Reproduzo,
por definitiva, a frase do professor
Roberto Moraes: “o que é legal pode ser muito mais danoso que o
ilegal”.
Ontem,
Parente pediu pressa no fim da lei da partilha. Hoje, vendeu Carcará.
Fez,
assim, da Petrobras a única petroleira do mundo que diz que não quer lugar
cativo nas melhores jazidas de petróleo descobertas neste século. Faz dela a
única que dá, a preço de banana, o que já tinha do “filé” do filé do pré-sal.